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          Álbum iconográfico da Avenida Paulista

"... o arrabalde mais pitoresco desta capital..." -  pág. 12

      São imprecisas as indicações quanto ao projeto da Avenida e suas especificações. As informações disponíveis dão conta de que as características da nova Avenida, foram estabelecidas por Eugenio de Lima e planejadas pelo agrimensor Tarquinio Antonio Tarant. O leito carroçável era dividido em três vias destinadas ao bonde, as carruagens e aos cavaleiros. Magnólias e plátanos separavam as pistas e o piso era de pedregulho branca. Essa disposição assimétrica permaneceu, enquanto a bonde circulava em linha simples: com a duplicação da linha, foi necessário alterar o esquema original, com as bondes correndo pelo centro da Avenida, que contava com trinta metros de largura, dimensão surpreendente época e possível devido a uma característica geológica do espigão central.

    O espigão é bem homogêneo, retilíneo, com largura variando entre 100 e 300 metros e altitude média entre 815 e 820 metros. Essa tabularidade do relevo e um fenômeno de 13 quilômetros de extensão, que suscitou a abertura das Avenidas Jabaquara, Domingos de Morais, Paulista, Doutor Arnaldo e Professor Alfonso Bovero. Neste último trecho, localiza-se o ponto mais elevado de todo o sitio urbano de São Paulo, cuja cota atinge 831 metros. O setor correspondente a Paulista é o mais regular e dista de 2 a 3 quilômetros do centro histórico.

   No nivelamento do terreno não foi necessário significativo movimento de terra. Rocha Azevedo Filho conta que o agrimensor Tarquinio Antonio Tarant executou o plano de Eugênio de Lima, fazendo toda movimentação de terras, arruamento, arborização etc., tendo rasgado, ainda, alamedas transversais que receberam nomes de cidades paulistas: Amparo (atual Alameda Campinas). Ribeirão Preto, Rio Claro, Casa Branca, Limeira (atual Peixoto Gomide). Jundiaí (atual Ministro Rocha Azevedo) e no sentido longitudinal, Alameda Santos, Jau, Itu, Tietê e Lorena. "Na Avenida foi destinada uma área para o parque, que é hoje o Parque da Avenida." No livro Um pioneiro em São Paulo, onde consta essa informação, é reproduzido um recibo de Bartholomeu Banchia, datado de 5 de maio de 1891 no valor de duzentos e cinqüenta mil réis, pelo "traçamento das ruas no terreno próximo à Chácara da Bela Cintra e contigua à Grande Avenida Paulista incluindo a respectiva planta."

    Desde sua abertura, a Avenida comparece obrigatoriamente em todos os texto sobre a cidade.

   Na sua Crônica de Outrora, A. de Almeida Prado escreve: "O Viaduto do Chá, aberto ao trânsito em 1893, era ainda uma novidade e a Avenida Paulista, novinha em folha, uma atração turística. Para alcançá-la, empreendia-se excursão em bonde a tração animal, os vulgarmente chamados "bondes de burro", que subiam a ladeira da Consolação até o portão do Cemitério, com um par de bestas apenas. Fazia-se aí pequena parada para juntar-se outra parelha, a fim de vencê-la até o topo do espigão divisor das águas das vertentes da Consolação e do futuro Jardim América, terras fora da vila e termo, propriedades de rústicos chacareiros portugueses."

    Jorge Americano, no livro São Paulo naquele tempo (1898-1902), informa: "Seguindo pela Rua da Consolação, meio estrada meio rua, cortava-se um dos extremos da recente Avenida Paulista, despovoada, com algumas chácaras, como a do Bullow e chegava-se ao novo Hospital do Isolamento."

  Como se vê, a palavra chácara podia designar tanto o propriedade rural produtora de verdura como aquela grande propriedade urbana de moradia, cercada de jardim, horta, pomar, cavalariça, etc. Com o tempo, essas grandes residências urbanas passaram a ser conhecidas por vilas, recebendo o nome da esposa do proprietário ou algum nome pitoresco.

     No início do século, o Diário Popular publicava sob o título "Chácara na Avenida Paulista” o seguinte anúncio: "Aluga-se uma chácara e casa, a casa tem 8 cômodos e um bom galinheiro e cocheira, água de poço e da Cantareira; a chácara está bem plantada de verduras e bem arborizada e mede 1.500 metros de terra quadrados. Aluga-se em boas condições. Para informação na rua Marechal Deodoro 32." A propriedade poderia ter a aparência da foto reproduzida à página 2

    Consultando os documentos do Arquivo Histórico Washington Luis, no sector de Obras Particulares, vamos encontrar desde 1895 pedidos de aprovação de plantas para a Avenida Paulista.

    Em 1897, Fried e Ekman pedem autorização para construção de cocheira com quarto para galinhas etc." a ser construída anexa à residência de Antonio Augusto Correa. Nesse mesmo ano, o arquiteto Julio Saltini submete "Projeto de um estábulo, casa de arreios e galinheiros” a ser construido na residência de Francisco Matarazzo. Os pedidos de construção de instalações dessa natureza continuam no início do século. Em 1905, o arquiteto Augusto Fried solicita autorização para aumento degalinheiro" na residência A. Von Bollow.

    Coerentemente, há vários pedidos para construção de chalet como o que Nestore Fortunati preten.dia construir em 1905, na esquina com a Rua Bela Cintra (27). Chalet originariamente designava casa rural, de montanha, na Suiça; passou depois a designar casa de lazer construída nos moldes dos chalets suíços. Em nosso Pais, vemos essa palavra comparecer nas casas de campo ou de praia em lugares como Petrópolis, Campos do Jordão e Guarujá. Houve casos em que alguns chalets escolhidos em catálogos foram importados da Suécia. Eram inteiramente de madeira, como o em que residiu o arquiteto Carlos Ekman, na Rua Jaguaribe. No espaço urbano, a expressão é freqüentemente reservada para casas despretensiosas; do sistema construtivo original são conservados apenas alguns componentes, como o lambrequinado em madeira.

    Portanto, uma certa ruralidade cercou inicialmente a Avenida Paulista, considerada arrabalde nos anúncios publicados no Diário Popular, em agosto e setembro de 1900: "A Avenida Paulista é o arrebalde mais pitoresco desta capital, está 64 metros mais alto do que o largo da Sé, e dista ao largo de S. Francisco 8 minutos de bonde elétrico."

    Esta é uma novidade no início do século: o "bonde elétrico" chegava à Paulista aposentando os carros de tração animal. A disposição das faixas de circulação (97) vai se alterar, com os bondes correndo agora em linha dupla, no centro. Entre as duas linhas foram inicialmente colocados postes (29) que alteraram a imagem da Avenida.

    Os açorianos residentes nas proximidades da Rua Augusta fizeram erigir uma capela dedicada ao Divino Espírito Santo entre as ruas Frei Caneca e Peixoto Gomide, visivel do centro da cidade (15).

    Finalmente, para zelar pela segurança do arrabalde foi contratado como "guarda-matas da Avenida" o Sr. Atanazio Caravaggio. E a população pôde dormir em paz.

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